Durante uma entrevista recente, Adriano Massuda, secretário de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, anunciou a intenção de ampliar a compra centralizada de medicamentos para o tratamento do câncer. Essa estratégia, inspirada no Programa de HIV-Aids, tem como objetivo utilizar o poder de compra do Estado para negociar preços melhores, fortalecer a produção nacional e garantir o acesso contínuo e eficaz ao tratamento oncológico pelo SUS.

Neste artigo, exploramos os impactos, benefícios e desafios dessa política pública, destacando a viabilidade jurídica, operacional e econômica da iniciativa.

O Que é a Compra Centralizada e Por Que é Importante?

Como Funciona a Compra Centralizada?

A compra centralizada é uma política pública que permite ao governo negociar diretamente com os fabricantes de medicamentos, utilizando seu poder de compra para obter condições mais favoráveis. No caso do câncer, a proposta visa reduzir custos, assegurar o fornecimento contínuo e garantir que os tratamentos sejam acessíveis a todos os pacientes atendidos pelo SUS.

O Contexto do Tratamento Oncológico no Brasil

O câncer é uma das principais causas de mortalidade no Brasil, e o tratamento oncológico envolve medicamentos de alto custo, muitas vezes inacessíveis para a maioria da população. Além disso, a crescente demanda por tratamentos impõe uma pressão significativa sobre os recursos públicos. A centralização busca aliviar essa carga financeira e melhorar o acesso.

Benefícios da Compra Centralizada

1. Redução de Custos e Sustentabilidade

  • Negociação Direta: Permite ao governo negociar preços mais baixos com os fabricantes, resultando em economias significativas.
  • Escala: A compra em grandes volumes garante melhores condições financeiras.

2. Acesso Ampliado e Tratamentos Contínuos

  • Inclusão Social: Pacientes vulneráveis têm mais acesso aos medicamentos.
  • Continuidade do Fornecimento: Reduz a chance de desabastecimento, um problema recorrente em compras descentralizadas.

3. Incentivo à Produção Nacional

A política promove o fortalecimento da indústria farmacêutica brasileira, reduzindo a dependência de importações e aumentando a competitividade do setor no mercado internacional.

4. Fortalecimento do SUS

Com a otimização dos recursos, o SUS se torna mais sustentável e capaz de atender melhor às demandas da população.

Desafios para a Implementação da Compra Centralizada

Aspectos Jurídicos e Regulamentares

  • Conformidade com Leis: A medida deve observar normas como a Lei nº 8.666/1993 (Licitações) e a Lei Complementar nº 141/2012 (Gestão de Recursos para Saúde).
  • Normas da ANVISA: Medicamentos adquiridos devem seguir rigorosos padrões de segurança, qualidade e eficácia.

Garantia de Concorrência no Mercado

  • Evitar práticas anticompetitivas que possam criar monopólios.
  • Assegurar que a centralização não limite a diversidade de opções terapêuticas.

Governança e Transparência

  • Implementar mecanismos de fiscalização para prevenir irregularidades.
  • A Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011) deve ser aplicada para garantir a transparência no processo de compra.

O Programa de HIV-Aids como Modelo de Sucesso

Lições do Programa de HIV-Aids

O programa é reconhecido por sua capacidade de negociar preços mais baixos e garantir a distribuição eficaz de medicamentos essenciais. Além disso, incentiva a produção local, promovendo a sustentabilidade do abastecimento.

Adaptação para o Contexto Oncológico

Embora o câncer exija medicamentos mais específicos e de alto custo, a experiência acumulada com o Programa de HIV-Aids pode ser adaptada para atender às demandas dessa nova proposta.

Aspectos Operacionais da Compra Centralizada

Processo de Aquisição

  • Licitações Públicas: A centralização deve seguir as normas de licitação, promovendo a competição justa entre os fornecedores.
  • Margem de Preferência Nacional: Incentivar produtos e serviços nacionais, conforme a Lei nº 12.349/2010.

Integração com Políticas Existentes

  • A medida deve ser alinhada ao Plano Nacional de Assistência Farmacêutica, garantindo o acesso a medicamentos essenciais e o uso racional desses produtos.

Políticas Complementares para Garantir o Sucesso

Incentivo à Pesquisa e Desenvolvimento

  • Apoiar a criação de medicamentos inovadores.
  • Investir em genéricos e biossimilares para reduzir custos.

Articulação Entre os Atores Envolvidos

  • Ministério da Saúde, ANVISA, gestores estaduais e municipais, fornecedores de medicamentos e associações de pacientes devem trabalhar de forma coordenada.

Considerações Econômicas e Sociais

Impacto Econômico

A centralização pode gerar economias significativas para o sistema de saúde, otimizando o uso dos recursos públicos.

Impacto Social

  • Redução das desigualdades no acesso ao tratamento oncológico.
  • Fortalecimento do SUS como um sistema universal e inclusivo.

Conclusão

A centralização da compra de medicamentos oncológicos é uma medida promissora, com potencial para melhorar o acesso aos tratamentos, reduzir custos e fortalecer o sistema de saúde pública no Brasil. No entanto, para que essa iniciativa seja bem-sucedida, é essencial superar desafios jurídicos, operacionais e econômicos, garantindo transparência, eficiência e inovação no processo.

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Natália Soriani
Saúde e bem estar
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